18 de ago. de 2013

Deuses, homens e heróis entre Gregos e Baianos

 MAIORES INFORMAÇÕES: http://www.letras.ufmg.br/ArchaiXI/
      
 Apresentação

      Ampliando as discussões que até agora se dirigiram a autores e questões filosóficas da cultura grega clássica, o Seminário Internacional Archai, na sua décima primeira edição, definiu como objetivo discutir a construção do ethos do herói (e do anti-herói) na literatura greco-romana, bem como a sua recepção na cultura moderna, principalmente no cinema e literatura. Nesse âmbito, buscamos articular as matrizes, seja no campo histórico ou no ficcional, da tradição helênica ocidental com gêneros de grande penetração cultural e política, como o Western norte-americano, e textos clássicos da literatura brasileira, como o Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, eGrande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e re(a)presentações de personagens como Tiradentes, Zumbi ou Lampião.
     Da Grécia ao Brasil, ainda nos defrontamos com os mitos, os heróis e o peso de suas decisões e ações, como indicam a crônica de 24 de abril de 1892, de Machado, por ocasião do aniversário da Inconfidência Mineira:
Relede Ésquilo, amigo leitor. Escutai a linguagem compassiva das ninfas, escutai os gritos terríveis, quando o grande titão é envolvido na conflagração geral das coisas. Mas, principalmente, ouvi as palavras de Prometeu narrando os seus crimes às ninfas amadas: “Dei o fogo aos homens; esse mestre lhes ensinará todas as artes”. Foi o que nos fez Tiradentes;
ou as inquietações filosófico-poéticas de Paulo Leminski, em sua viagem pelo imaginário grego, por meio da recepção do mesmo na obra de Ovídio:
Esta lenda é a pedra de Sísifo [...] e a pedra volta, sempre volta, penas de Hércules, trabalhos de Dédalo, labirintos, lembra que és pedra, Sísifo, e toda pedra, em pó vai se transformar, e sobre esse pó muitas lendas se edificarão. [....] Ao morrer, o minotauro chora como uma criança, por fim se enrosca como um feto, e se aquieta no definitivo da morte. Teseu limpa a espada no manto e sai, com uma morte na alma do tamanho da noite (Metaformose).
     ....há pedras no meio do caminho, há lendas impressas em lugar da verdade e a sedução das fábulas, como indica outro poeta, Seféris – que lemos abaixo na tradução de José Paulo Paes –, ao fazer reverberar no século XX o espanto dos soldados frente ao herói Menelau, quando do desaparecimento daquele famoso fantasma de Helena, na tragédia homônima de Eurípides, ardiloso expediente dos deuses que causou a guerra de Tróia:

Rouxinol rouxinol rouxinol,que é deus? e não deus? e entre um e outro?
...............................................
Solitário  ancorei com esta fábula,
se é verdade que de fábula se trata,
se é verdade que os homens não irão cair de novo
no velho engano dos deuses.


     Podemos também nos perguntar: que(m) é o herói? que(m) é o anti-herói? e entre um e outro? Ao “entre” gostaríamos de dar destaque. Nesse sentido foi que escolhemos a  identidade visual desse Seminário a partir de uma Hidra de figuras negras do século VI a.C. É uma imagem que enfatiza, mais que o resultado da metamorfose, o breve momento da transição, de passagem de um estado a outro. Trata-se de uma cena  relatada no Hino Homérico a Dioniso, quando piratas são transformados em golfinhos pela divindade. Além do tema na transição, a figura do pirata também nos atrai e é oportuna aqui. “Pirata” vem de περάω (peráo), que significa atravessar, passar, cruzar fronteiras, daí, viajar para transportar, vender e trocar coisas. Da mesma esfera semântica são os termos “experimentar”, “tentar”. Nesse sentido, esse Seminário é também uma tentativa de cruzar fronteiras, não apenas buscando compreender o que sejam homens, deuses e heróis, mas, também, como diferentes povos, em diferentes momentos, trocaram, combinaram e conservaram suas diversas representações do humano e do divino e, mantendo algumas de suas características, fizeram-nas personagens-símbolo de seus mitos e lendas.
    Antes de concluir essa apresentação, é necessário destacar que a escolha de parte do título, "entre gregos e baianos", é uma referência – que também reitera a importância do “entre” – ao título de um dos livros do poeta, ensaisata e tradutor José Paulo Paes, no qual variadas manifestações culturais da literatura e música são analisadas, tomando como pressuposto a desconstrução da antítese entre arte de elite e arte de massa. É também com esse espítrito que convidamos todos/as interessados para participar desse seminário e experimentar os limites, a travessia entre o mar helênico e o sertão, entre o “velho oeste” e as montanhas de Minas (onde também “eram tantos cavalos”), entre a filosofia e áreas afins: poesia, história, cinema, em um diálogo que, esperamos, seja profundo, profícuo e prazeroso.
     
      Sejam bem-vindos/as ao XI Archai!

      Organizadores


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